terça-feira, 12 de junho de 2012

Thomas Apaixonado

Dia dos Namorados é sempre a mesma coisa: um monte de ofertas e produtos em promoção em toda esquina, programação especial nos canais de TV e rádio, casais se pegando por ai, um clima romântico fake, pessoas desesperadas atrás de companhia etc etc. E eu não me lembro de ter feito nenhuma aquisição, em se tratando de produtos, em um 12 de junho. Ou, quem sabe, eu seja anti-consumista?!

Bem... tenho a minha historinha romântica para compartilhar hoje, apesar de tudo. É sobre o Thomas apaixonado (Thomas est amoureaux, no original). Em um futuro não tão distante ou impossível, vive o jovem belga, de 32 anos, Thomas Thomas. Há oito anos ele vive recluso em seu apartamento, pois sofre de uma doença diagnosticada como 'agorafobia', o que o impede de ter contato e se relacionar com qualquer outra pessoa. Tudo o que liga Thomas Thomas ao mundo é a conexão da internet: é por meio da rede que ele pode fazer compras, encomendar a comida, procurar serviços de manutenção, fazer a terapia, procurar moças que estejam dispostas e/ou disponíveis para...! Ele vive de uma espécie de pensão por causa de sua doença e diz que ganhou muito dinheiro trabalhando como designer e aplicou isso na apólice.

Assim, passa a maior parte de seu tempo consultando seu terapeuta, que sugere a seu paciente sites de relacionamentos, como as de agência de matrimônios, games safadeeenhos e contatando pessoas que se interessam pelo seu perfil. Em um desses contatos, conhece Melanie, garota que produz vídeo-poemas e tem uma personalidade bem diferente da dele. Em outra experiência, dessa vez com uma pseudo-intenção terapêutica, conhece Eva, por quem se apaixona.

Falando agora sobre a impressão que tenho do filme: a primeira vez que assisti, não percebi muito humor na história, provavelmente porque eu estava prestando atenção na linguagem e outros elementos. Ontem, para escrever este texto, voltei a assisti-lo 3 anos depois e a impressão foi bem diferente. Há um humor, talvez sórdido, de perceber como os relacionamentos andam nessa época em que todos estão conectados e que se fala cada vez mais da tal da inclusão digital. Em muitos casos, consideram que ter um perfil no Orkut ou Facebook é ter contato com a rede, mas não se fala qual é a qualidade desse contato, tampouco quantos desses que não usavam dessa tecnologia conseguem adquirir outras habilidades e usar delas como ferramenta de trabalho, pesquisa, estudos?... Por outro lado, é cada dia mais comum se relacionar à distância, sem querer ter o contato físico com alguém. Digo isso porque muitas vezes eu prefiro não conversar com as pessoas por telefone e acho mais prático escrever e-mails que ninguém responde. Há ainda a figura da mãe, Nathalie: a de Thomas sempre aparece nas horas mais inconvenientes possíveis! Ele tenta impor regras no contato com ela e isso não costuma acontecer durante a história. E as relações de contato físico acontecem em simulações cibernéticas que exigem aparatos como uma roupa especial com sensores para praticar sexo.

A estética do filme: foi todo filmado com webcams e câmeras de monitoramento ou video-fones, o visual de tudo é muito colorido, por vezes psicodélico e é curioso que os personagens que aparecem na tela de Thomas ostentam algum tipo de desenho no rosto, como signos de identificação. E o espectador nunca vê Thomas, apenas ouve a sua voz e tudo o que se vê é a partir de sua posição, como se a tela de seu computador fosse uma janela para o seu mundo.

No mínimo, eu diria que é um filme curioso.


Ficha Técnica:
Título original:
Thomas est amoureaux
Ano e local de realização:
Bélgica, 2000

Direção: Pierre-Paul Renders
Roteiro: Philippe Blasband
Atores:
Thomas Thomas - Benoît Verhaert
Eva - Aylin Yay
Melodie - Magali Pinglaut
Nathalie - Micheline Hardy
Psicólogo - Fréderic Topart
Madame Zoe - Jacqueline Bollen